Dia 7: Martigny (471 m) - Bourg St Pierre (1632 m) - From Antwerp to Torino - CycleBlaze

September 20, 2019

Dia 7: Martigny (471 m) - Bourg St Pierre (1632 m)

Quando acordei e meti a cabeça fora da tenda vi que o Jacques já tinha partido. 

Iniciei o ritual matinal de ir à casa de banho, preparar café, comer pão com qualquer coisa e arrumar tudo de volta nos sacos da bicicleta. Desta vez havia mais entusiasmo e motivação. A grande subida começava hoje.

Ainda fui até à loja da estação de serviço ao lado do camping abastecer-me de pão fresco, fruta, um sumo e mais qualquer coisa para meter no pão.

O início da subida é feio e tem muito trânsito. Esta é a principal estrada de acesso à Suiça e por isso é muito usada por camiões. Não há ciclovia mas a berma é relativamente larga.

Já a 720 m de altitude, em Sembrancher optei por uma estrada secundária, a uma cota superior à estrada principal. Foi a escolha mais acertada de todo o percurso. Durante horas não me cruzei com nenhum carro. Um ou outro tractor agrícola nada mais. A vista das montanhas é de tirar a respiração. O dia estava soalheiro e não se via uma única nuvem no céu.

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A inclinação não permitia pedalar a mais de 10 km/h. Alguns troços eram tão empinados que tive que usar a pedaleira mais pequena e o carreto de trás maior mais vezes do que previa.

Numa das pequenas povoações por onde passei havia uma fonte comunitária. Aproveitei para fazer uma pausa, comer e beber qualquer coisa e descansar a contemplar a paisagem.

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Mais acima, já de volta à estrada principal passei por um chiringuito à beira da estrada. Uma espécie de café/roulote com uma esplanada e uma loja de produtos regionais. Achei que valeria a pena uma pausa.

No balcão, colados com fita cola, estavam uns papéis com combinações de menús: frango com batatas fritas 7CHF, salsicha com batatas fritas 6CHF, hambúrguer 8CHF e por aí fora. Um deles dizia salada mas sem preço. Pedi uma e fui-me sentar.

Como tinha sumo e pão combinei tudo com a salada de legumes frescos. No fim levantei-me para pagar e a senhora disse-me que era 1CHF. Não tinha francos mas ela aceitava euros ao câmbio de 1 para 1. Um euro por uma salada, na Suíça, era um achado. Achei que era o meu dia de sorte e pedi um café. Ela no fim pediu-me 5,5CHF. Paguei 4,5€ pelo pior café da minha vida, em copo de plástico mas aprendi uma bela lição.

Daqui até ao camping do Grand St Bernard faltava pouco. O sol ia alto e o céu continuava azul.

Camping a 1640 m
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Cheguei ao destino pouco tempo depois. Registei-me, encomendei pão para a manhã seguinte e fui montar a tenda. O ritual é sempre o mesmo. De dentro dos sacos começam a saltar coisas que se vão espalhando pelo chão à volta da tenda. Tinha coisas molhadas da noite anterior e por isso fui pendurando tudo ao sol nas árvores à volta. Visto de fora parecia que tinha havido uma explosão.

Fui tomar um duche, comi mais qualquer coisa e fiquei a descansar. Arrumei melhor o acampamento e preparei a cama para a noite que se adivinhava fria. Estava a 1800 m de altitude por isso esperava-se um arrefecimento noturno acentuado. A temperatura mínima iria rondar os 5º C.

Fui dar uma volta a pé pela aldeia. Perdi-me por entre as ruelas e ainda encontrei um percurso para visitar um antigo moinho de água com canais esculpidos em troncos de madeira. Arrastei-me, de chinelos de enfiar o dedo, calções e T-shirt pelos trilhos da aldeia. Fiz fotografias das montanhas que rodeiam o vale e imaginei como seria viver aqui no inverno, com isto tudo branco.

Mais uma vez o tempo de sobra fez-me sentir sozinho. Isto não tem graça se não for partilhado. Gostava que a Ana e os miúdos aqui estivessem a apreciar isto também, pensei eu. A próxima viagem de bicicleta será com eles decidi. 

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Voltei ao camping e organizei a tralha para preparar o jantar. O camping tem uma sala de convívio com cozinha, sofás e até uma cama no piso de cima. Estava frio por isso resolvi cozinhar na sala de convívio. Bem, cozinhar não é propriamente a palavra certa .Tinha levado comigo umas quantas embalagens de comida desidratada que apenas precisa de água a ferver. Junta-se a água quente diretamente na embalagem, fecha-se e ao fim de 8 minutos está pronta a consumir. No fim a embalagem vai para o lixo e não há loiça para ser lavada.

Desta vez tinha um pacote de couscous com legumes. As massas já tinham ido todas nas refeições anteriores. Este couscous não é nada saboroso. Comi sem prazer e sem vontade. Comi pouco mais de metade e fartei-me. Meti no lixo o que sobrou e comi o resto de pão que ainda tinha.

Ainda aproveitei o wifi do camping para procurar alojamento em Aosta. Decidi que não ia acampar no dia seguinte pois a previsão era de chuva do lado Italiano. Maravilhas dos tempos modernos em que perdidos no meio dos Alpes conseguimos procurar e reservar alojamento do outro lado do mundo sem dificuldades. Encontrei um hotel/pensão, barato e com pequeno almoço incluído bem perto do centro de Aosta. Confirmei a reserva e fui para a tenda. 

Ainda não deviam ser umas 21:00 já a noite estava escura e fria. Meti-me no saco de cama, tapado até às orelhas a ler umas páginas do livro até que o sono tomou conta de mim.

Ainda me lembro de, por me ter deitado tão cedo ter que ir aliviar a bexiga por volta das 4 da manhã. Tentei adiar o mais que pude mas há coisas que não dão para contrariar. Esta é das tarefas mais chatas no campismo e com frio. Temos que nos despachar a vestir, calçar os sapatos e atravessar o camping para ir aos balneários com a bexiga cada vez mais apertada. Depois regressar e ter que fazer o processo inverso até re-aquecer o corpo.

Pela humidade da relva e a quantidade de condensação na tenda confirmo que tomei a decisão certa ao reservar um quarto debaixo de telha em Aosta.

Today's ride: 35 km (22 miles)
Total: 419 km (260 miles)

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